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Pânico no mercado: o lado emocional das perdas na bolsa

Coronavírus, dólar alto, juros baixos e ações afundando fazem com que o prejuízo do investidor vá além das finanças. Veja como sobreviver a essa prova de nervos.

“Mantenha a calma”, dizem os especialistas. Mas como fazer isso quando se vê o patrimônio definhar tão rapidamente em apenas alguns dias? Não bastasse o terror causado pela disseminação do coronavírus, os investidores precisam preparar o coração para lidar com as perdas em ações e até no rendimento de títulos longos.

Esta semana as quedas foram grandes. Aqui no Brasil, a bolsa de valores parou duas vezes em apenas três dias. O “circuit breaker” teve de ser acionado na segunda e na quarta-feira, depois de o Ibovespa, principal índice da bolsa, cair mais de 10%.

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Os efeitos vão além dos números. São psicológicos e até físicos. Os sintomas de uma crise como essa incluem dor, frustração, raiva, depressão, inconformismo, sensação de que o mundo não é justo, segundo a professora de psicologia econômica e finanças comportamentais e colunista do Valor Investe, Vera Rita de Mello Ferreira.

Na leva de novatos, que entraram na bolsa em momento de alta, o empresário Mendel Hoffmann relata que, de tanta apreensão, passou a ter dores de cabeça. Ele tem praticamente tudo aplicado em renda variável, entre ações e fundos imobiliários. Até o momento, já perdeu quase 30% do que tinha investido. A expectativa é de seguir firme e recuperar-se da queda.

“Estou esperando a turbulência passar para contabilizar ao certo as perdas. Fiquei tenso o dia inteiro, esperando a situação melhorar”, diz. “Tem que ter sangue frio, psicológico forte. Bolsa de valores não é pra qualquer um. Quando vejo que o nervosismo toma conta, eu nem abro o home broker [sistema eletrônico de negociação da bolsa]. Mas não vou desistir”. Ele precisa ainda acalmar a esposa que não entende bem do tema e fica apavorada com as notícias de prejuízos.

Crise na era da internet

O cenário de adversidade pelo qual o mundo passa tem algumas características diferentes que contribuem para o pânico dos investidores, segundo especialistas. Esta é a primeira grande crise na era das redes sociais e das fake news e faltam informações sobre o novo vírus.

“Se fica todo mundo falando que há uma pandemia, o que se sabe a respeito do coronavírus não consegue neutralizar o pânico”, afirma Vera Rita.

O fato de todo mundo estar falando sobre a bolsa em queda, o coronavírus, o dólar disparando, acaba reforçando – muitas vezes, de maneira errônea – o senso de desespero. Esse excesso de exposição do assunto leva a crer que o problema é maior do que realmente é – isso se chama heurística da disponibilidade (saiba mais sobre o tema).

“Estamos enfrentando uma situação muito atípica. Temos pouca informação e isso leva as pessoas a tomarem decisões mais emocionais. Entramos em um terreno muito mais irracional do que racional”, diz a economista e professora de economia comportamental da ESPM Cristina Helena Pinto de Mello.

Na histeria, a emoção acaba tomando conta e os fatos objetivos ficam de lado, de acordo com o presidente do grupo consultivo de educação de investidores da Anbima, Aquiles Mosca. Eles perdem a importância momentaneamente. Já não importa o grau de mortalidade da doença ou as reais chances de contraí-la, só o pânico e as más notícias são passadas adiante.

“Conforme a informação vai passando de pessoa pra pessoa, os aspectos positivos vão se minimizando, até desaparecem, e os aspectos de risco acabam sendo magnificados. Até fatores novos, que não estavam na informação inicial, são adicionados”, afirma.

Fonte: https://valorinveste.globo.com/objetivo/hora-de-investir/noticia/2020/03/12/panico-no-mercado-o-lado-emocional-das-perdas-na-bolsa.ghtml
Por Isabel Filgueiras, Júlia Lewgoy e Naiara Bertão, Valor Investe

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